08 fevereiro, 2011

ARTIGO: ITALIANIDADE E CIDADANIA ITALIANA.


Muito se tem falado, escrito, criticado, reclamado, e outras mazelas mais, demonstrando insatisfações e desapontamentos perante a forma não muito amistosa de tratamento dos atendentes que trabalham em instituições italianas, dentre outras o consulado Italiano de Curitiba, coincidentemente quando o assunto é “cidadania italiana”. 

É claramente perceptível que este fluxo intenso de pessoas que procuram os consulados sob o pretexto de regularizar a cidadania italiana, é normalmente utilizado para finalidades não tão dignas do que comprovar a condição de cidadão italiano. É preciso refletir sobre o fato de ser mais ou ser menos italiano através de uma folha de papel que comprove tal condição. Existem muitos que trabalham pela cultura italiana, dedicando-se com intensidade pela causa, e não tem cidadania italiana. Para estas pessoas não é um pedaço de papel que garante a cidadania italiana! 

É preciso, antes de tudo, entender que cada instituição tem sua própria realidade, principalmente quando se trata de um consulado estrangeiro, qualquer que seja o país. Trata-se de representação oficial que um determinado país, instalado para atender seus cidadãos perante qualquer dificuldade além de outras atividades que envolvem a diplomacia. É necessário entender que não existe obrigação dos consulados para atender outras demandas, dentre elas a regularização da cidadania, porque vai depender da disponibilidade de pessoal e de recursos em grande volume, nem sempre suficientes para atender a demanda, recursos estes que precisam estar previstos no orçamento do referido país. Ninguém desconhece as dificuldades econômicas globais que atingem a maioria dos países, e a Itália não está fora desta situação, fato que tem provocado corte de recursos que somente eles sabem onde devem cortar. 

Fazendo uma análise dos acontecimentos destes últimos anos pode-se perceber a presença de forças estranhas provocando manifestações pontuais e momentâneas, sem qualquer perspectiva e muito menos resultados práticos, quando em vez disso deveriam se organizar para discutir o assunto na busca de uma solução viável. Este seria o papel das associações em termos práticos, muito comentadas, mas ainda longe de assumirem este papel, fato que indiscutivelmente está a merecer um grande debate público. 

O que está faltando é um trabalho básico de educação para o associativismo, pois não basta querer participar, é preciso conhecer os mecanismos legais e administrativos de uma associação para poder fazê-la funcionar e atender seus objetivos, mas isto requer dedicação e muita responsabilidade, que ainda nos falta. 

Independentemente desta realidade em torno da aquisição da cidadania italiana, os interessados deveriam refletir sobre esta estranha e cruel realidade: estas pessoas, geralmente, não se interessam em aprender o idioma italiano, o que dificulta a comunicação com autoridades italianas ou mesmo de países da União Européia; não conhecem a história nem a cultura italiana nas suas origens e muito menos aqui no Brasil; rejeitam participar de associações, mesmo reconhecendo que elas são importantes; normalmente assumem uma atitude colocando-se acima de tudo e de todos, mas na hora da necessidade vão mesmo é bater na porta das associações. Esta é uma realidade que pode ser interpretada como um ato de ignorância cívica, e os personagens enquadrados como analfabetos em questões de cidadania, tanto brasileira quanto italiana, pois não são capazes de ler e interpretar o conteúdo dos respectivos passaportes, criando situações delicadas com autoridades estrangeiras ao utilizarem o passaporte italiano. 

Já se tornou comum assistir tais situações, protagonizadas por pessoas com este perfil, lutando desvairadamente para obter um passaporte italiano, mais para satisfazer seus instintos do que para reconhecer seus possíveis direitos, e por isso decidi protelar a regularização da minha cidadania italiana, pois o meu passaporte brasileiro me permite ingressar em qualquer país, apesar de alguns exigirem o visto de entrada, o que não deixa de ser uma forma de autoproteção de suas instituições. 

Segundo o argumento destas pessoas o atual momento social e econômico brasileiro apresenta-se desfavorável para suas pretensões, o que não justifica tais procedimentos pois deveriam se organizar em associações, que desempenham o legítimo papel de entidades representativas, mas a pressa e o tão bem defendido direito de sonhar falam mais alto, justamente porque falta uma cultura associativa. Este é considerado um fator limitante quanto ao interesse em associar-se, porque significa compromisso social que implica em pagar mensalidades, freqüentar reuniões na sede, participar ativamente da associação, inteirar-se sobre assuntos que o motivaram associar-se e, principalmente, assumir responsabilidades quando eleitos para cargos sociais. 

Temos um longo caminho curto a percorrer, que implica obrigatoriamente na árdua tarefa de aglutinar as pessoas em associações, aqui considerado como um longo caminho. Superada esta etapa poderemos ter um grupo de pessoas, um coletivo organizado, devidamente mobilizado e conscientizado, capaz de assumir responsabilidades e resolver qualquer causa que se apresente, aqui entendido como o caminho curto. 

Tudo que aprendi sobre cidadania, língua e cultura italiana, italianidade, a maneira de pensar e agir dos italianos que aqui chegam e dos brasileiros quando chegam à Itália, foi através de participação ativa em diversas associações, dedicando parte do tempo que somente os ocupados conseguem dispor, mas sempre com o instinto de cooperar com as instituições e as causas coletivas, apesar de algumas tentativas individualistas que acabam interferindo para desestabilizar o processo, normalmente provocadas por esses indivíduos. 

Nos meus 25 anos de participação ativa em associações italobrasileiras, viagens de estudos técnicos na Itália, criação de novas associações e federações, constituição de cooperativas agroindustriais, na condição de conselheiro convidado do Comites e do Movimento Associativo Italiano no Exterior, delegado brasileiro na II Conferencia da Imigração Italiana realizada em Roma em 1988, e uma infinidade de outros eventos sobre esta mesma causa, posso afirmar que aprendi muito sobre nossa italianidade bem como posso dizer que não existe outro caminho para resolver estes problemas, e quanto mais demorar na organização e na participação em associações, mais prolongada será a tão esperada obtenção da cidadania italiana. A solução desta problemática não pode ser atribuída ao governo italiano da forma como vem sendo conduzida, mas principalmente aos interessados na aquisição da cidadania italiana, que deverão se organizar para melhor entender a função das instituições, principalmente àquelas do governo italiano. Cumprir a lei é uma das responsabilidades de cada cidadão, aqui e na Itália. 

Para concluir tomo a liberdade para provocar uma reflexão: procurar despertar nas autoridades brasileiras em todos os níveis, alguma forma de contribuição em favor da cidadania italiana para ítalo-brasileiros, pois sendo cidadãos brasileiros são, também, eleitores que escolhem seus representantes, existindo entre tais representantes muitos com cidadania italiana e outros que fazem parte de frentes parlamentares compromissadas com esta causa. É preciso falar de organização da sociedade, envolvendo estes representantes eleitos, para se chegar a uma proposta de criação de uma sociedade direcionada a causa da cultura italiana, uma das mais fortes que faz parte da cultura brasileira. Com esta nova situação surgirão inúmeras oportunidades, em todos os setores de atividades, capaz de transformarem-se em credencial para a tão sonhada realização pessoal. Posso afirmar-lhes que eu já consegui esta realização, na área do cooperativismo, e certamente muitos outros também já conseguiram as suas.

Por João Andreata de Souza 
E-mail: andreatinhaj@hotmail.com

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